DE VOLTA AO JOGO

Uma nova via, que marca uma nova fase. Foto Oswaldo Baldin.

Depois de um longo jejum de três anos, eis que este blog ressurge. O motivo de não dedilhar no teclado para trazer narrativas para este meu recinto de eternizada de memória, deu-se ao fato de que, todas as minhas atenções estavam voltadas, e integralmente dedicadas, para a escrita do livro Escalada Capixaba. Este mesmo motivo que me "tirou" daqui do blog, me fez afastar também das montanhas, e consequentemente das escaladas. Depois de muita perseverança e piração, o livro foi lançado em fevereiro deste ano, e assim o maior dos meus projetos - em 23 anos de escalada - estava concluído, e finalmente pôde seguir o rumo de seu maior propósito: chegar às mãos de escaladores Brasil à fora, e servir de instrumento para que estes conheçam a história e o panorama da escalada capixaba, e usufruam (espero que de maneira consciente e ética) de nossas montanhas.

Aqui dá para visualizar desde a área de estacionar, o percurso no costão, e por essas costuras segue terceira enfiada da nova via da Pedra da Cara. Foto Oswaldo Baldin.

Com mais uma etapa da vida concluída, era hora de voltar às escaladas. E foi em fevereiro mesmo! O parceiro de cordada André "Tesourinho" lançou a proposta de no feriado do Carnaval  irmos para Pancas, e dentre os afazeres, o objetivo maior seria para conquistar uma linha que ele havia visualizado na Pedra da Cara (eu também já havia namorado essa linha, rs). Seria um retorno triunfal: no município que mais gosto de escalar, e na montanha que me proporcionou um dos visuais mais surpreendentes de cume.

No primeiro dia em Pancas fomos fazer a "Boas Vindas" (3º IV E1 D1, 450m), que eu havia conquistado três anos antes com o Sandro Souza e o Vitor Mayer, mas que ainda não havia repetido... mas essa via passou a receber muitas repetições, se tornando a mais procurada em Pancas, dada sua interessante extensão, e sendo ao mesmo tempo bem tranquila e muito bem protegida. E com um nome bem sugestivo desses, né? rs. Fizemos ela toda em simultâneo (ou "à francesa", se assim preferir) em 01 hora. Depois de três anos parados, as engrenagens não estavam tão ruins. Dava para encarar uma conquista!

Lá vou eu pra fechar a conquista da última enfiada. Foto André dos Santos.

Partimos pela caminhada de aproximação pelo costão paralelo ao que dá acesso à via Face Oculta, e seguindo a mesma característica da sua vizinha, a base via já começa de uma parte alta da montanha. Fomos conquistando, revezando a ponta da corda, e tudo fluindo na boa, até atingirmos o topo da parede, finalizando a nova via com cinco enfiadas. Lá de cima, a fama de cume da Pedra da Cara se manteve a mesma proporcionada pela sua vizinha Face Oculta: visual de cair o queixo! Se erguendo à frente a Pedra da Agulha, a da Gaveta e o Camelo. Confere lá e depois me conta se num é fod...!

Essa foi uma conquista muito na energia positiva. A cada metro que subia, redescobria o quão prazeroso (e "perrengoso" muitas vezes) é galgar uma rocha virgem, algo que mais me dá tesão na escalada. Durante a fluidez da conquista, um nome para a via me veio à  mente, e aprovado pelo parceiro, assim conquistamos a nova de 290 metros no dia 11/02/18, batizando-a de "De Volta ao Jogo" (4º V E2 D1). Um nome que veio a caracterizar todo o processo que havia vivido nos últimos tempos, e naquele momento.

Aquela eternizada de um momento marcante: o retorno! Foto do Amigo Imaginário do Baldin.

No resumo da opera a via ficou com: a primeira (60m) e segunda (55m) enfiadas muito fáceis (II), praticamente uma escalaminhada, que deram acesso à parede mais íngreme. E por ela seguiu a terceira enfiada (55m), a mais técnica (V) da via, ficando muito bem protegida. A quarta enfiada (55m) com um lance de IV, e a quinta enfiada (IV, 60m) finalizando a via numa árvore à esquerda. Uma caminhada ultra ligeira (para a direita) leva ao topo, de onde se tem aquela tal vista impressionante descrita ali em cima. O livro de cume está neste local, acomodado em um totem de lacas.

Croqui feito pelo André. Foto de Flávio Daflon.

Para repetir são necessárias 9 costuras (umas 4 longas) e corda de 60 metros (2 para o rapel). Estacione no mesmo local utilizado para a "Face Oculta" (página 229 do livro Escalada Capixaba), atravesse a cerca ao lado do asfalto e caminhe (conforme traçado abaixo) cerca de 20 minutos pelo costão, que é limpo. Em caso de chuva, ao final do costão existe um grampo para rapelar. Pode ser que exista um corrimento de água (se tiver chovido uns dias antes) antes da P0, que pode ser contornado facilmente pela esquerda, mais acima, atravessando uma canaleta de mato e saindo ao lado da P0.

Em breve acrescentarei aqui um croqui complementar, no padrão dos que estão no livro Escalada Capixaba. 


As duas vias da Pedra da Cara, e com seus visuais incríveis. Foto Oswaldo Baldin.

Um outro fato marcante desta ocasião foi que Pancas presenciou a maior "caravana" de escaladores vindos de outro Estado. Um ônibus, diretamente do Rio para Pancas, desembarcou no Sítio Cantinho do Céu trazendo mais de 40 escaladores do Centro Excursionista Brasileiro. Por quatro dias essa galera ficou por lá, escalando diversas vias, e pudemos ter muitas conversas e interatividade, altamente positivas. É muito gratificante ver que uma semente plantada em 2009 vem rendendo bons frutos no Monumento Natural dos Pontões Capixabas.

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